domingo

Estava irritado. E ansioso. Porque já não recebia notícias há algum tempo. Sempre fora um sujeito com uma imaginação exuberante e muito dado a fatalismos. E quando ficava perturbado, perdia a capacidade de manter o sangue-frio e cometia erros. Mas tudo se poderia justificar já que já diziam os antigos que o amor cega qualquer um. O problema é que o seu grau de delírio era tal que ele se julgava completamente apaixonado. Todos, inclusivamente os que com ele conviviam todos os dias, lhe tinham um ódio enorme e só esperavam que os erros fossem tantos que pudesse ser liminarmente condenado ao degredo, no mínimo por uns 70 anos.
Tal não foi preciso porque, no dia seguinte, saindo de casa, foi atropelado. 
Teve morte imediata.
Ao funeral não compareceram mais de 5 pessoas, quase todos para se assegurarem que ele estava, de facto, morto.
Ninguém manifestou a mais mínima comoção. 

3 comentários:

Olga Gouveia Rebelo disse...

Mais valem poucos e bons.

Fatalismo? Não. Chegara apenas a sua hora, como chegará a nossa um dia.

Nocturna disse...

Os tempos não vão bons para sonhadores ou pessoas com imaginação.
É mais seguro ser mansinho e dizer sempre que sim.
Em terra de cegos , quem tem um olho é para destruir !
Um abraço desanimado
Nocturna

BatRitinha disse...

Vi aqui a história do meu chefe.